Nós mesmos causamos o sofrimento
1 “Grite, Jó! Veja se alguém responde.
Que anjo você vai chamar?
2 Ficar desgostoso e amargurado é loucura,
é falta de juízo, que leva à morte.
3 Uma vez vi um homem sem juízo
que parecia estar progredindo na vida,
mas eu amaldiçoei a família dele.
4 Os seus filhos não têm segurança;
nos tribunais são condenados injustamente,
e não há ninguém que os defenda.
5 Os famintos ficam cobiçando as suas riquezas;
devoram as suas colheitas,
pegando até o trigo que nasce entre os espinhos.
6 A aflição não brota da terra;
a desgraça não nasce do chão:
7 somos nós mesmos que causamos o sofrimento,
tão certo como as faíscas das brasas voam para cima.
Deus dá esperança aos fracos
8 “Jó, se eu fosse você, voltaria para Deus
e entregaria o meu problema a ele.
9 Nós não podemos entender as coisas maravilhosas que ele faz,
e os seus milagres não têm fim.
10 Deus dá chuva à terra;
ele faz a água cair sobre os campos.
11 Deus põe os humildes nas alturas,
põe num lugar seguro os que choram.
12 Deus faz com que os planos dos espertos falhem
e que as suas ações fracassem;
13 ele pega os sábios nas suas espertezas
e acaba com as suas intrigas.
14 Em pleno dia eles ficam no escuro
e ao meio-dia andam às cegas,
apalpando como se fosse noite.
15 Deus salva da morte os pobres;
ele livra os necessitados das mãos dos poderosos.
16 Deus dá esperança aos fracos
e tapa a boca dos maus.
As mãos de Deus curam
17 “Feliz é aquele a quem Deus corrige!
Por isso, não despreze o castigo do Deus Todo-Poderoso.
18 Deus fere, mas ele mesmo faz o curativo;
ele machuca, mas as suas mãos curam.
19 Vez após vez Deus salvará você do perigo
e não deixará que nenhum mal lhe aconteça.
20 Em tempo de fome, Deus não deixará que você morra
e em tempo de guerra ele o salvará da espada.
21 Ele o protegerá das más línguas,
e você não terá medo quando houver destruição.
22 Você se rirá quando houver violência e faltarem alimentos
e não terá medo dos animais selvagens.
23 Nos seus campos as pedras não estorvarão o arado,
e os animais selvagens não o atacarão.
24 Na sua casa você viverá em paz
e, quando contar as suas coisas,
não vai achar falta de nada.
25 Você terá muitos filhos,
e os seus descendentes serão tantos como as folhas de capim no pasto.
26 Você vai morrer velho e forte,
como um feixe de trigo colhido no tempo certo.
27 Jó, a vida nos ensina que é assim.
Esta é a verdade; pense nisso para o seu próprio bem.”
Elifaz exorta a Jó a que busque a Deus
1 Chama agora! Haverá alguém que te atenda?
E para qual dos santos anjos te virarás?
2 Porque a ira do louco o destrói,
e o zelo do tolo o mata.
3 Bem vi eu o louco lançar raízes;
mas logo declarei maldita a sua habitação.
4 Seus filhos estão longe do socorro,
são espezinhados às portas, e não há quem os livre.
5 A sua messe, o faminto a devora
e até do meio dos espinhos a arrebata;
e o intrigante abocanha os seus bens.
6 Porque a aflição não vem do pó,
e não é da terra que brota o enfado.
7 Mas o homem nasce para o enfado,
como as faíscas das brasas voam para cima.
8 Quanto a mim, eu buscaria a Deus
e a ele entregaria a minha causa;
9 ele faz coisas grandes e inescrutáveis
e maravilhas que não se podem contar;
10 faz chover sobre a terra
e envia águas sobre os campos,
11 para pôr os abatidos num lugar alto
e para que os enlutados se alegrem da maior ventura.
12 Ele frustra as maquinações dos astutos,
para que as suas mãos não possam realizar seus projetos.
13 Ele apanha os sábios na sua própria astúcia;
e o conselho dos que tramam se precipita.
14 Eles de dia encontram as trevas;
ao meio-dia andam como de noite, às apalpadelas.
15 Porém Deus salva da espada que lhes sai da boca,
salva o necessitado da mão do poderoso.
16 Assim, há esperança para o pobre,
e a iniquidade tapa a sua própria boca.
17 Bem-aventurado é o homem a quem Deus disciplina;
não desprezes, pois, a disciplina do Todo-Poderoso.
18 Porque ele faz a ferida e ele mesmo a ata;
ele fere, e as suas mãos curam.
19 De seis angústias te livrará,
e na sétima o mal te não tocará.
20 Na fome te livrará da morte;
na guerra, do poder da espada.
21 Do açoite da língua estarás abrigado
e, quando vier a assolação, não a temerás.
22 Da assolação e da fome te rirás
e das feras da terra não terás medo.
23 Porque até com as pedras do campo terás a tua aliança,
e os animais da terra viverão em paz contigo.
24 Saberás que a paz é a tua tenda,
percorrerás as tuas possessões, e nada te faltará.
25 Saberás também que se multiplicará a tua descendência,
e a tua posteridade, como a erva da terra.
26 Em robusta velhice entrarás para a sepultura,
como se recolhe o feixe de trigo a seu tempo.
27 Eis que isto já o havemos inquirido, e assim é;
ouve-o e medita nisso para teu bem.